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A AUTORA


Allana Gonzalez
Maringaense, 16 anos. Perfeccionista, mas esculachada; irritada, e também ignorante. Durmo mais do que gostaria e escrevo mais do que poderia imaginar, só que... (+)

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O BLOG
Comecei a escrever porque gostava de brincar com as palavras, inventar humores, descrever cenários. Escrevia porque gostava de ter tudo sob controle... (+)

CURTA


O QUE LEIO

ÚLTIMAS POSTAGENS
Mim artista
escrito em sábado, 22 de março de 2014 às 09:56

       Trata-se de ser aos passos, e não aos saltos. Um cabelo limpo, uma sobrancelha delineada... um corpo em paz. Uma matéria em dia, o material na bolsa, a bolsa nas costas, a alsa afrouxando, o peso diminuindo. Os dias e as provas passando... De repente, rotina. Uma capa nomeada, a folha datada, riscada, anotada... As contas em dia. Prestar contas? Depende de mim agora, e não de você. Só que mim não faz nada. Mim dança, mim escreve, mim canta, mim vive, mim pula - salta. E eu? Eu caminho, eu decoro, eu orgulho, eu tenho diploma, doutorado, pós. E quem sabe dando um jeito na prateleira empoeirada, nas roupas jogadas no chão, na máquina de escrever que não escreve e na máquina fotográfica que não fotografa, eu dou um jeito em mim. Ops. Em eu.

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O natal do jeito que ele é
escrito em terça-feira, 24 de dezembro de 2013 às 07:03

       Era natal. A casa cheirava peru e biscoitos da vó, os presentes ainda se amontavam em baixo da árvore, o rádio tocava nada menos do que um sambinha.
       Eu me coloquei em pé e arrumei a camisa que começava a amarrotar.
       - Eu queria fazer um brinde.
       Ninguém ouviu.
       Eu peguei o meu copo com o vinho - sim, copo - e comecei a bater o meu garfo nele para chamar a atenção do povo. Um arroz pulou do talher e grudou no penteado da minha tia. Eu deixei lá.
       - Eu queria fazer um brinde - eu repeti, ainda fazendo a louça tinir.
       - Você vai estragar o meu copo! - minha vó reclamou.
       - Você tem problema? - o meu irmão caçula perguntou tapando o ouvido de uma maneira exagerada.
       Aquilo não tava funcionando.
       - CALEM A BOCA!
       Silêncio total.
       Os talheres congelaram no ar, todo mundo parou de mastigar, um neto começou a chorar.
       Eu limpei a garganta, passei a mão na camisa novamente, e coloquei o garfo na mesa.
       - Eu queria fazer um brinde.
       Eles se empertigaram nas cadeiras. Tava explicado.
       - Queria brindar a nossa família. Por todas as gerações que já foram, e por essas que estão aqui hoje.
       Todos ergueram os copos e começaram a levá-los para a boca.
       - Não, eu não acabei!
       - Misericórdia.
       - O que ele tá fazendo papai?
       Eu ergui mais ainda o copo para dar ênfase.
       - As comemorações não podem passar sem reconhecermos o quanto somos especiais uns para os outros.
       - Alguém abana a mosca do peru - meu tio sussurrou.
       - Todo ano seguimos as mesmas tradições - eu continuei - e esquecemos de dar o valor para a família porque estamos preocupados ajudando na cozinha.
       - Menos você que só aparece na hora da janta né meu filho? - brincou o meu avô e todos riram fazendo os copos vacilarem no ar. Minha vó deu um tapinha nele, mas ela mesma segurava a risada.
       - Então, - eu ignorei - eu gostaria que nós parássemos para pensar o quanto é uma benção fazermos parte dessa família gigante.
       Um minuto de silêncio. Lá na rua o alarme de algum carro começou a tocar e no rádio o samba mudou para um pagode.
       - Saúde - brindou a minha vó.
       - É isso? - minha prima perguntou. Você já acabou?
       - Sim! Saúde - eu repeti.
       Todos beberam o vinho, ou refrigerante, ou suco, ou cerveja, de seus copos. Alguns trocaram tapinhas uns nas costas dos outros, algum bisneto beijou os pais, eu abracei minha vó.
       Já era natal. Presentes aos poucos seriam trocados. A mágica estava no ar naquela noite cristalina. Todos estavam felizes.
       - Droga Mario, a minha comida esfriou por causa do seu estúpido discurso!

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A mulher de Ló
escrito em domingo, 24 de novembro de 2013 às 17:52

       A ligação falhou por um momento.
       - Você ainda está aí? - ela sussurrou, sentada na sacada da sua casa no ar ameno da madrugada.
       - Sempre - ele sussurrou de volta, do outro lado da cidade, deitado em sua cama. Minhas coisas estão prontas.
       - E eu sinto que estou esquecendo alguma coisa.
       - Dinheiro?
       - Sim.
       - Passaporte?
       - Primeira coisa que peguei.
       - Câmera?
       - Com bateria carregada e os cabos, além do tripé,
       - Essas eram as coisas mais importantes.
       - É, acho que sim...
       - Amor, eu não acredito que a gente vai fazer isso. Finalmente!
       - Eu sei - ela sussurrou.
       - Imagina todas as coisas que nós vamos fazer. Só nós dois. Nós, e o mundo, que finalmente pareceu entrar em órbita.
       - Sim, tudo vai ficar para trás...
       - Só o que importa nós vamos levar. O nosso amor linda! É isso o que importa.
       - Sim, só isso. Faculdade, trabalho, família, amigos... tudo vai ficar para trás.
       - É bom você não enjoar de mim em, se não você estará ferrada. Sozinha comigo, num fuso horário totalmente diferente, num idioma estranho - ele riu.
       - Que isso lindo. Isso nunca passou pela minha cabeça...
       - Como se fosse possível né. Se fosse para enjoar, teria o feito nesses três anos de namoro nosso!
       - O tempo passa muito rápido...
       - Passa. E esse ano será incrível. Eu, e você - ele riu de novo.
       - Só nós dois... sem olhar para trás...
       Mas ela olhou.

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10 pras 6
escrito em quarta-feira, 7 de agosto de 2013 às 17:19

       Toc, toc.
       A caixa escorregou de seu braço, e ele quase deixou-a cair. Ele riu. Estava nervoso é claro, como sempre ficava quando fazia essa entrega.
       Pondo-se bem no meio da varanda, de macacão azul da empresa, cabelo cuidadosamente arrumado daquela forma desleixada dele, os olhos cor do céu esperando a porta se abrir, a alpargata no pé, o crachás no peito.
       Um relacionamento? Longe disso.
       Ele fazia as entregas, ela as recebia. A pessoa mais louca que ele conhecia. E olha que ele nem a conhecia tanto assim - talvez, se você somar todos os minutos que suas entregas duravam, você teria aí no total umas 2, 3 horas. Acho até que estou sendo otimista.
       A porta se abriu lentamente.
       Usando uma camiseta branca maior que seu shorts, toda respingada de tinta azul claro  fosco (?), o cabelo castanho e ondulado preso no alto da cabeça, uma maquiagem, talvez de ontem, nos olhos, e um sorriso no rosto. Um lindo sorriso. A pele clara, as sardas, as feições delicadas, o cílios enorme. Não era a menina mais linda do mundo, mas com certeza não passava despercebida.
       - To começando a achar que você tem um certo probleminha com descontos virtuais - ele disse, mostrando a terceira caixa só dessa semana, a piada pensada e ensaiada no caminho do trabalho até ali.
       E ela riu, como sempre ria de suas piadas. Mas ela nunca continuava a brincadeira. Deixava sempre a conversa no ar, o pensamento parecendo estar sempre em outro lugar.
       E ela o convidaria para entrar, como sempre fazia.
       - Pode entrar fofo - a forma como ela sempre o chamava, fazia-o se sentir, sei lá, apenas mais um cara. Exatamente como ele não queria se sentir. Ou como se ele não precisasse mais bater na porta quando chegasse, como se fosse óbvio demais que era para ele entrar.
       A casa parecia estar de ponta-cabeça.
       - Vai se mudar? - ele perguntou, temeroso, notando as caixas nos cantos das salas.
       - Não. Vou me mudar - ela respondeu com um sorrisinho.
       Ela o levou até a cozinha, que agora tinha uma grande lousa cheia de desenhos e recados escritos pendurada na parede, cada um com um giz diferente. O chão agora era xadrez. A geladeira azul. Um fogão à lenha do lado da pia.
       - Pode por aí - ela apontou para a mesa e foi lavar os pincéis que segurava, na pia.
       Ele tinha 22. Ela tinha 20. Nenhum dos dois faziam faculdade. Ele sonhava em ser um jornalista, em fazer um curso profissionalizante na Escola de Belas Artes, mas agora era apenas um entregador do correio em tempo integral. Ela sonhava em ter um best seller, entregando-se única e totalmente aos seus romances. Ele queria sair do país. Ela era de uma cidade pequena, morando agora, sozinha, num grande centro.
       - Eu preciso te mostrar uma coisa - foi o que disse de repente. Ela se virou, largou os pincéis no balcão, e soltando o cabelo em seguida, saiu da cozinha.
       - Para mim? - ele a seguia pelo corredor, curioso.
       Estava em cima da cômoda de seu quarto. Ele parou na porta, observando-a rebolar daquele jeitinho engraçado até aquela apostila. Seu cabelo roçando sua cintura, seus braços e pernas branquelos manchados de tinta.
       - Para você.
       - "10 pras 6" - ele leu em voz alta.
       Ela deu uma risadinha. Estava encostada no batente da porta agora, bem do lado dele.
       - Você que escreveu?
       - Sim.
       - Por que você está me dando?
       - A história é sobre você.
       Ele a encarou. Seus olhos eram claros, quase bejes. Ela era pequenininha, batia em seus ombros.
       - Como assim?
       Ela deu uma risadinha.
       - A história é sobre nós dois na verdade. Como poderia ter acontecido, se, bem, nós tivéssemos nos apaixonados.
       Ele riu, não conseguindo se segurar.
       Ela se afastou, de repente, ofendida.
       - Você não gostou.
       - Não, claro que não - ele se adiantou um passo e segurou-a pela mão - Eu achei genial!
       A boca dela se abriu um pouquinho. Ela olhava para a mão dele, envolvendo a sua.
       Alguma coisa estava terrivelmente errada. Ou de repente, terrivelmente certa.
       O que é pior? Não ter o que quer, ou ter o que tanto quer?
       E agora que ela tinha, ou pelo menos poderia ter, o que ela faria?
       - Você tem que ler então - ela disse baixinho. Ver se você vai gostar do final.
       - Deixa eu adivinhar - ele sorriu, e soltou devagarinho a mão dela - eles ficam juntos?
       Ela riu, como sempre fazia, e não disse nada, como também sempre fazia.
       O clima começou a ficar um pouco constrangedor, e depois de uns comentários perdidos, e uma promessa de que ele leria sim, e que voltaria, com ou sem entrega, ele foi embora.
       A kombi estava estacionada do outro lado da rua.
       A chave caiu no chão asfaltado antes da porta ser destrancada.
       Ela ficou o espionando da janela até ele e seu carro azul virarem na esquina.
       Uma promessa de que ele voltaria.
       E as horas. Eram 10 pras 6.

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Acho que eu fiz um poema
escrito em quinta-feira, 25 de julho de 2013 às 13:08

       Eles estavam tentando juntar os cacos
       Seguir em frente
       Mas primeiro eles tinham que passar pelo passado
       Opa, parada obrigatória.
       A pequena não aguentava a pressão
       Roía as unhas
       Buscava água
       Prendia o cabelo
       E logo, aquela que prometera não chorar,
       Chorava.
       Pegos de surpresa, um trevo os confundiu o caminho
       Perdidos?
       Que surpresa.
       A verdade que doía?
       Ou os "muros que protegiam"?
       Dor, ou dor?
       As máscaras vacilam durante a indecisão, e
       Por 6 segundos eles se vêem verdadeiramente
       Mas que surpresa aquela,
       Eles não se conheciam verdadeiramente.
       Uma família com muita história
       Mal contada e mal interpretada
       Muito drama e com muito "deixa para amanhã"
       De repente, eles não aguentam mais aquilo
       Cada canto recebe um
       As unhas ficam no chão
       As lágrimas são enxugadas
       Amanhã tem que acordar cedo

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Megera domada
escrito em sexta-feira, 12 de julho de 2013 às 09:08

       Acho que esse é o texto mais difícil que vou ter que escrever, porque além de ser uma promessa feita a um ano atrás, para alguém que não pensa duas vezes antes de cobrar o que fica pendente, eu tenho que descrever uma das pessoas mais inconstantes e de temperamento forte que eu conheço. Uma pessoa que ultimamente vem nadando no que não sei ser um mar de ansiedade ou medo. Na verdade, eu vejo que ela está é se afogando. Ora nadando, ora se afogando. Ora seguindo em frente, ora desistindo, jogando tudo para o alto e deixando que suas lágrimas se misturem com a água das ondas. Mas ela nunca desiste. Seja seguindo em frente, ou sendo puxada para baixo, ela sempre está la, batendo os braços e as pernas, olhando para o sol, olhando para o céu, nunca perdendo o foco. É até romântico. Ela? Ela é sim. Ela finge não ser, mas escuta Lana del Rey e A Thousand Years e pensa nele. Ela chora vendo O Diário de uma Princesa, e acho que isso não deveria ser dito. Mas como não dizer? E como dizer de uma forma agradável? A pessoa mais indecisa que eu conheço. Seja a roupa, uma foto, uma inscrição. Acho que no fim das contas, ela pergunta a opinião de todo mundo, até achar alguém com a mesma que a dela. Ela. Um segundo brava, o resto do dia um amor. É assim mesmo. Você tem que medir o seu humor. Estudá-la. E não importa. Você pode odiá-la, mas se ela quiser, você se torna um pião em um segundo. Por que, tem como não se apaixonar? Japonesa. A prova viva de que a pessoa mais desequilibrada do mundo pode ser a mais equilibrada. Como se fosse possível equilibrar maldade com compaixão, alegria com depressão. Um toque de ironia por trás de uma verdade. Uma brincadeira particular por trás de uma resposta. Uma gargalhada, um desentendimento, um xingamento. Ela odeia puxa saco, mas da bombom para os professores. Odeia conversa na aula, mas não se segura, e não perde a oportunidade de uma fofoca. Escola... A crise do último ano. Como se todos os vídeos, todas as fotos, todas as amizades não fossem o suficiente para manter o Ensino Médio vivo por um bom tempo. A saudade chegou, e o ano nem terminou. Como pode? Seu cabelo costumava ser mais escuro, seus dentes, mais separados. A elasticidade continua a mesma, assim como os olhos puxados  Assim como o carisma. Mas a idade. Quem diria. Agora já é uma moça. Médica? Quem sabe. Só uma coisa eu te digo: não importa a profissão, não importa o estado civil, ela sempre será a mesma japonesa invocada, a mesma que todos nós amamos.  

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Video Games
escrito em quinta-feira, 11 de julho de 2013 às 20:47

      - Idiota, idiota, idiota, idiota!
      Ela se jogou no colchão e encostou a cabeça no vidro. Sua respiração embaçava a janela do quarto andar e o Big Ben sumia e aparecia por de trás das nuvens. 
      Ela tinha deixado uma mensagem de voz para ele. Mais uma. 
      Quem em sã consciência deixa mensagem de voz? É muito, mas muito mais ridículo do que mandar mensagem, cutucar no facebook, mandar indiretas no tweeter. É tão...
      - Ridículo! - ela bateu a mão no vidro e deixou se cair de bruços, apertando a almofada no rosto e gritando. 
      O loft parecia tão vazio sem ele. 
      Os quadros que ele a tinha convencido a comprar ainda estavam na parede de tijolinhos a vista, a observando. O lustre começava a juntar poeira, a geladeira vermelha começava a ficar vazia. As flores começavam a murchar e o quadro de giz, em cima da pia, continuava com o mesmo desenho do mês passado, o que nunca acontecia. Sua cama parecia tão sem graça agora, no canto da sala, o véu rosa transparente a cobrindo graciosamente. O lençol caído no chão, e um só travesseiro. 
      Ela rodou no colchão até cair no tapete. 
      - Deixe ele ir sua retardada! 
      Ela começou a soluçar. 
      - Não! Dói, dói, dói, dói - ela abraçou as pernas, e ficou em posição fetal. 
      Era assim que ela tinha passado o mês. Quando olhava pra trás, ela não conseguia entender o motivo de ter terminado com ele. Como ela podia ter achado que conseguiria viver sem ele? Bom, ele era problema. Mas sem ele, ela era um problema. E sem solução. A sua solução, a solução deles, era ficar juntos. Mesmo não combinando, os dois tinham a combinação um do outro, os dois se encaixavam, os dois se completavam. E agora ele se sentia traído, porque havia sido pego de surpresa. E ela também. 
      - Como assim você está com medo? - ele tinha gritado, a dor fazendo ele perder a cabeça.
      - Eu estou com medo porque eu cheguei a um ponto que parece que o meu amor por você nunca vai se saciar! - ela gritou naquela tarde, a 31 dias atrás.
      - Ah, claro - ele jogou os braços para o alto - E me afastando é exatamente o jeito certo de resolver esse problema.
      - Você não entende - sua voz saiu num sussurro.
      - Não! Não entendo! 
      - Eu te amo tanto, tanto, que só de pensar... só de pensar em te perder - ela balançou a cabeça. Esse amor não é saudável. Eu não posso suportar. Eu te odeio! Eu odeio a maneira como o amo! Odeio essa sensação de que não posso respirar. Odeio me sentir em pedaços, mas completa, quando você me beija. Você. Você está em toda parte. Tudo é você. E eu simplesmente, simplesmente não posso lidar com outra queda, se você partir, eu não vou aguentar. Quando as pessoas me amam, elas me deixam. Elas viram as costas. E dessa vez, sou eu quem vai dar as costas.
      E então ela tinha saído. Ela tinha o deixado sozinho, no apartamento dela, e só tivera coragem de voltar para casa na madrugada seguinte. Ele não estava lá. Nenhum bilhete, nenhum vestígio. Na verdade, ele tinha levado todas as suas roupas, todas as suas fotos, tudo. Até o anel. Ele tinha deixado apenas um buraco negro gigante no lugar onde antes era o seu lar, onde antes era o seu coração. E a culpa... a culpa era dela. 
      De repente, o seu ouvido começou a apitar. 
      Não. O telefone estava tocando. 
      O telefone. 
      Ela se levantou num pulo e correu até a mesa. Com as mãos tremendo, ela levantou o aparelho. E lá estava ele. O número dele. 
      - A minha última chance - ela sussurrou, e então atendeu. 
      O telefone estava mudo, mas ela podia ouvi-lo.
      - Você está aí? - ela perguntou, forçando sua voz soar calma e suave, com medo de, sei lá, assustá-lo. 
      - Estou.
      Ela deixou um suspiro escapar. 
      - O que você tem para me dizer?
      "Tantas coisas" ela queria gritar, mas ela sabia que ele não teria paciência. Ela precisava ser rápida.
      - Eu estou confusa. Muito. Mas não em relação ao meu amor por você. Eu disse que te odiava, mas porque eu o amo tanto, que sei que não consigo viver sem você. Por favor, eu só não quero mais fugir desse amor, mesmo que ele me assuste muito, porque eu não posso mais suportar essa dor - quando ela percebeu que estava quase implorando por perdão, ela contou até três antes de continuar.
      - Eu sei que eu não posso voltar atrás, e eu te odeio por você ter escutado aquelas palavras insanas que eu te disse. Eu te odeio porque você me deixou, porque você não estava aqui quando eu voltei. Eu te odeio. 
      Ela respirou fundo.
      - Eu te odeio, porque você me amou de verdade, e eu fui cega. Por favor, não me deixe. Eu te amo. 
      Ele não dizia nada. Apavorada, ela perguntou:
      - Você ainda me ama? 
      A campainha tocou três vezes, da maneira como ele costumava tocar. Coincidência? 
      Segurando o telefone junto ao ouvido, ela foi atender a porta. 
      E antes mesmo dela abrir a porta por completo, ela ouviu a sua resposta.
      - Impossível não te amar. 
      Suas pernas, seu corpo, seus braços, tudo se moveu por vontade própria, respondendo a apenas um instinto: seu calor. Correspondido. Ele a abraçou forte, a erguendo do chão, acariciando suas costas. E dentro de uma sacola, estava um pacote de balas, com o anel lá dentro. Uma piada interna. 
      Eles se beijaram. 

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