A AUTORA
Maringaense, 16 anos. Perfeccionista, mas esculachada; irritada, e também ignorante. Durmo mais do que gostaria e escrevo mais do que poderia imaginar, só que... (+)
+ siga o blog | tumblr | twitter | facebook O BLOG
Comecei a escrever porque gostava de brincar com as palavras, inventar humores, descrever cenários. Escrevia porque gostava de ter tudo sob controle... (+)
CURTA
O QUE LEIO
ÚLTIMAS POSTAGENS
|
O natal do jeito que ele é
escrito em terça-feira, 24 de dezembro de 2013 às 07:03
Era natal. A casa cheirava peru e biscoitos da vó, os presentes ainda se amontavam em baixo da árvore, o rádio tocava nada menos do que um sambinha. Eu me coloquei em pé e arrumei a camisa que começava a amarrotar. - Eu queria fazer um brinde. Ninguém ouviu. Eu peguei o meu copo com o vinho - sim, copo - e comecei a bater o meu garfo nele para chamar a atenção do povo. Um arroz pulou do talher e grudou no penteado da minha tia. Eu deixei lá. - Eu queria fazer um brinde - eu repeti, ainda fazendo a louça tinir. - Você vai estragar o meu copo! - minha vó reclamou. - Você tem problema? - o meu irmão caçula perguntou tapando o ouvido de uma maneira exagerada. Aquilo não tava funcionando. - CALEM A BOCA! Silêncio total. Os talheres congelaram no ar, todo mundo parou de mastigar, um neto começou a chorar. Eu limpei a garganta, passei a mão na camisa novamente, e coloquei o garfo na mesa. - Eu queria fazer um brinde. Eles se empertigaram nas cadeiras. Tava explicado. - Queria brindar a nossa família. Por todas as gerações que já foram, e por essas que estão aqui hoje. Todos ergueram os copos e começaram a levá-los para a boca. - Não, eu não acabei! - Misericórdia. - O que ele tá fazendo papai? Eu ergui mais ainda o copo para dar ênfase. - As comemorações não podem passar sem reconhecermos o quanto somos especiais uns para os outros. - Alguém abana a mosca do peru - meu tio sussurrou. - Todo ano seguimos as mesmas tradições - eu continuei - e esquecemos de dar o valor para a família porque estamos preocupados ajudando na cozinha. - Menos você que só aparece na hora da janta né meu filho? - brincou o meu avô e todos riram fazendo os copos vacilarem no ar. Minha vó deu um tapinha nele, mas ela mesma segurava a risada. - Então, - eu ignorei - eu gostaria que nós parássemos para pensar o quanto é uma benção fazermos parte dessa família gigante. Um minuto de silêncio. Lá na rua o alarme de algum carro começou a tocar e no rádio o samba mudou para um pagode. - Saúde - brindou a minha vó. - É isso? - minha prima perguntou. Você já acabou? - Sim! Saúde - eu repeti. Todos beberam o vinho, ou refrigerante, ou suco, ou cerveja, de seus copos. Alguns trocaram tapinhas uns nas costas dos outros, algum bisneto beijou os pais, eu abracei minha vó. Já era natal. Presentes aos poucos seriam trocados. A mágica estava no ar naquela noite cristalina. Todos estavam felizes. - Droga Mario, a minha comida esfriou por causa do seu estúpido discurso! Marcadores: história 1 comentário[s] |