A AUTORA
Allana Gonzalez
Maringaense, 16 anos. Perfeccionista, mas esculachada; irritada, e também ignorante. Durmo mais do que gostaria e escrevo mais do que poderia imaginar, só que... (+)
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Comecei a escrever porque gostava de brincar com as palavras, inventar humores, descrever cenários. Escrevia porque gostava de ter tudo sob controle... (+)
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Coexistência pacífica, eu diria
escrito em sexta-feira, 5 de julho de 2013 às 14:30
- Olha a mosca - ela a repreendeu, mesmo estando de costas para a comida da mesa. Mãe/dona de casa é assim mesmo. Sente o cheiro de encrenca/bagunça/sujeira, o que for, mesmo estando fora de casa.
Sem tirar os olhos do celular, a filha abanou a mão. A mosca deu uma volta no ar e sentou-se novamente na picanha. Ela não viu.
- Olá povos e povas - era o pai. O calçado sujando todo o piso recém limpo, trombando na cadeira da mesa fazendo a louça retinir e dando um tapinha na bunda de sua mulher, antes de ir para o tanque lavar as mãos.
A mãe deu uma risadinha por força de hábito. Como filha, era engraçado perceber como o seu pai simplesmente não percebia que sua mãe odiava esses tapas e, mais do que tudo, ele não limpar o pé antes de entrar em casa. Assim como era engraçado ela, e não eles, perceber que eles eram sim um casal, mas um casal de estranhos. Um casal que só se aguenta porque a rotina o permite, porque o dia-a-dia os prende e os ocupa o suficiente para eles não terem um tempo de sobra apenas para os dois. Para fazer coisas que casais fazem. Para realmente notarem um ao outro. E assim, enquanto digitava veemente em seu celular, um sorriso irônico escapava-lhe dos lábios. Os olhos espreitados, maliciosos.
- Com quem você está falando? - o sorriso desapareceu.
- Ninguém - ela continuou teclando.
pai deu uma volta na cozinha, assobiando. Logo logo ele perguntaria se sua mulher precisaria de ajuda. Assim como fazia todos os dias.
Ele era um advogado. Um homem que uma vez fora muito apaixonado, e que hoje, vive acreditando que esse amor ainda arde em seu coração, em algum lugar. Essa é a única resposta, a única explicação palpável que ele conseguiu alcançar para a sua situação atual tão sem sal e açúcar. Porque, como seria possível que aquele amor que ele sentira por vários anos, tão forte, tão intenso, teria simplesmente acabado? Agora, não era mais a sua mulher que dormia ao seu lado, abraçando-o, mas sim uma completa estranha, que dormia de costas para ele, vestindo o seu pijama mais fechado, cobrindo-se com uma coberta diferente da dele.
Aquela ali não era a mulher com quem ele tinha se casado.
- Precisa de ajuda?
- Não - ela respondeu, colocando a última travessa na mesa e abanando a mosca da carne em seguida. Ela tirou o avental, e jogou-o no rosto de seu marido, que foi completamente pego de surpresa.
Ele não é mais o mesmo, pensava ela. Se fosse, ele teria pego o avental, e jogado de volta nela, gargalhando, mas não. Ele apenas deu um sorrisinho, dobrou-o, e o guardou na segunda gaveta. A gaveta das toalhas e com certeza não a gaveta onde ela guardava o avental - pendurado atrás da porta da despensa. Já tinha desistido de fingir ser a mesma que era 30 anos atrás. Ela tinha mudado. Isso acontece. O problema era que, as mudanças pelas quais ela passara, não combinavam com as características de seu... seu marido.
A família se pôs na mesa, e como faziam todos os dias, deram as mãos.
A filha ainda tinha aquele sorriso malicioso, observando os pais de mãos dadas.
A mãe segurava firme a mão da filha, desesperada por um sinal de afeto desta.
O pai orava, sua voz sussurrada e delicada, em reverência.
- Amém - disseram em conjunto, e como cães de ruas, devoraram a comida da mesa. Rasgando a carne com os dentes, engolindo o suco em grandes goles, os garfos batendo nos pratos, os temperos indo e vindo. Comiam rápido e sem respirar, para não sobrar brechas para conversarem. E quando elas apareciam, as mesmas perguntas e as mesmas respostas vinham logo em seguida.
- Alguma coisa na escola? - dizia o pai.
- O mesmo de sempre.
Ou.
- Um cliente ligou atrás de você Jorge - dizia a mãe.
- Anotou o recado?
- Está na mesa da sala.
Ou.
- Tá quente hoje né? - essa, os três se revezavam em falar no decorrer da semana, abanando a mosca da comida, aturando uns aos outros, em vez de amar. Marcadores: história
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Coexistência pacífica, eu diria
escrito em sexta-feira, 5 de julho de 2013 às 14:30
- Olha a mosca - ela a repreendeu, mesmo estando de costas para a comida da mesa. Mãe/dona de casa é assim mesmo. Sente o cheiro de encrenca/bagunça/sujeira, o que for, mesmo estando fora de casa.
Sem tirar os olhos do celular, a filha abanou a mão. A mosca deu uma volta no ar e sentou-se novamente na picanha. Ela não viu.
- Olá povos e povas - era o pai. O calçado sujando todo o piso recém limpo, trombando na cadeira da mesa fazendo a louça retinir e dando um tapinha na bunda de sua mulher, antes de ir para o tanque lavar as mãos.
A mãe deu uma risadinha por força de hábito. Como filha, era engraçado perceber como o seu pai simplesmente não percebia que sua mãe odiava esses tapas e, mais do que tudo, ele não limpar o pé antes de entrar em casa. Assim como era engraçado ela, e não eles, perceber que eles eram sim um casal, mas um casal de estranhos. Um casal que só se aguenta porque a rotina o permite, porque o dia-a-dia os prende e os ocupa o suficiente para eles não terem um tempo de sobra apenas para os dois. Para fazer coisas que casais fazem. Para realmente notarem um ao outro. E assim, enquanto digitava veemente em seu celular, um sorriso irônico escapava-lhe dos lábios. Os olhos espreitados, maliciosos.
- Com quem você está falando? - o sorriso desapareceu.
- Ninguém - ela continuou teclando.
pai deu uma volta na cozinha, assobiando. Logo logo ele perguntaria se sua mulher precisaria de ajuda. Assim como fazia todos os dias.
Ele era um advogado. Um homem que uma vez fora muito apaixonado, e que hoje, vive acreditando que esse amor ainda arde em seu coração, em algum lugar. Essa é a única resposta, a única explicação palpável que ele conseguiu alcançar para a sua situação atual tão sem sal e açúcar. Porque, como seria possível que aquele amor que ele sentira por vários anos, tão forte, tão intenso, teria simplesmente acabado? Agora, não era mais a sua mulher que dormia ao seu lado, abraçando-o, mas sim uma completa estranha, que dormia de costas para ele, vestindo o seu pijama mais fechado, cobrindo-se com uma coberta diferente da dele.
Aquela ali não era a mulher com quem ele tinha se casado.
- Precisa de ajuda?
- Não - ela respondeu, colocando a última travessa na mesa e abanando a mosca da carne em seguida. Ela tirou o avental, e jogou-o no rosto de seu marido, que foi completamente pego de surpresa.
Ele não é mais o mesmo, pensava ela. Se fosse, ele teria pego o avental, e jogado de volta nela, gargalhando, mas não. Ele apenas deu um sorrisinho, dobrou-o, e o guardou na segunda gaveta. A gaveta das toalhas e com certeza não a gaveta onde ela guardava o avental - pendurado atrás da porta da despensa. Já tinha desistido de fingir ser a mesma que era 30 anos atrás. Ela tinha mudado. Isso acontece. O problema era que, as mudanças pelas quais ela passara, não combinavam com as características de seu... seu marido.
A família se pôs na mesa, e como faziam todos os dias, deram as mãos.
A filha ainda tinha aquele sorriso malicioso, observando os pais de mãos dadas.
A mãe segurava firme a mão da filha, desesperada por um sinal de afeto desta.
O pai orava, sua voz sussurrada e delicada, em reverência.
- Amém - disseram em conjunto, e como cães de ruas, devoraram a comida da mesa. Rasgando a carne com os dentes, engolindo o suco em grandes goles, os garfos batendo nos pratos, os temperos indo e vindo. Comiam rápido e sem respirar, para não sobrar brechas para conversarem. E quando elas apareciam, as mesmas perguntas e as mesmas respostas vinham logo em seguida.
- Alguma coisa na escola? - dizia o pai.
- O mesmo de sempre.
Ou.
- Um cliente ligou atrás de você Jorge - dizia a mãe.
- Anotou o recado?
- Está na mesa da sala.
Ou.
- Tá quente hoje né? - essa, os três se revezavam em falar no decorrer da semana, abanando a mosca da comida, aturando uns aos outros, em vez de amar. Marcadores: história
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ALLANA GONZALEZ.
“Não deixe sua felicidade depender de algo que você pode perder.”
- Autor Desconhecido
Maringaense, 16 anos. Perfeccionista, mas esculachada; irritada, e também ignorante. Durmo mais do que gostaria e escrevo mais do que poderia imaginar, só que tenho uma forte tendência a começar tudo e não terminar nada. Sou consumista compulsiva de livros, extremamente ansiosa e odeio bichos que voam na minha direção. Prefiro finais de semanas em sítio, do que ficar presa na cidade. Adoro o verão, mas gosto da atmosfera do inverno. Prefiro ficção do que romance, e sou meio claustrofóbica. Ainda escuto músicas da Disney e já estou no meu quinto diário. Não sei consolar pessoas, e também não sigo os meus próprios conselhos. Sou azarada, lerda, escandalosa. Meu sonho? Alcançar cada vez um público maior para minhas histórias.
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BAÚ DE TINTA
“E você continua escrevendo sua história pulando linhas, errando palavras, esquecendo os títulos.”
- Tati Bernardi.
Comecei a escrever porque gostava de brincar com as palavras, inventar humores, descrever cenários. Escrevia porque gostava de ter tudo sob controle, de saber o que aconteceria, e porque eu colocava como desfecho das minhas histórias as soluções para os problemas que não encontrava na realidade. Agora eu escrevo porque não aguento guardar tudo para mim, porque a realidade ficou muito chata, porque sinto demais. Escrevo primeiramente para mim e por mim. E esse blog surgiu porque eu queria que as pessoas conhecessem esse meu lado. E porque histórias são escritas para serem lidas.
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